segunda-feira, 22 de outubro de 2012

RESENHA DE LARANJA MECÂNICA



RESENHA DE LARANJA MECÂNICA


Um grande clássico da década de 1970


 

Inegável destaque na obra do diretor Stanley Kubrick, Laranja Mecânica foi marcante na época e até hoje suscita discussões e reflexões diversas. Anthony Burgess, autor do livro homônimo, escritor, compositor e crítico britânico escrevera em 1962 o que veio a ser sua obra mais memorável. Burgess criou o personagem forte e com linguagem própria, que continha palavras em inglês, russo e algumas gírias. A obra de Burgess é recheada de sátiras sociais. Burgess foi também professor na Malásia e serviu ao exército inglês por seis anos. Foi diagnosticado com grave doença no final dos anos 50, porém só veio a falecer tempos mais tarde, em Londres, no ano de 1993. Laranja Mecânica é o resultado das suas críticas à utilização do behaviorismo em algumas instituições e sua preocupação com a delinqüência juvenil.
Já Kubrick, um dos mais importantes cineastas da história, iniciou sua carreira aos 22 anos, realizando curta-metragens. Seu primeiro longa foi filmado em 1953, Fear and Desire. Diretor de grandes filmes como Platoon (1986), O Iluminado (1980), 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), até então o melhor longa de ficção científica já visto. Kubrick deixou as câmeras e a vida no meio de mais uma superprodução científica, AI: Inteligência Artificial, que também marcou história e foi continuado Steven Spielberg.
Para Malcolm MacDowell, ator principal, o personagem foi uma grande projeção na carreira, por ser forte, diferente, extravagante, ter viés artístico explícito e pela sua brilhante interpretação com apenas vinte e três anos.

 
O filme se passa num futuro que não sabemos exatamente a data, na Inglaterra. De família saudável e de classe média, Alexander DeLarge ou Alex é um jovem, líder de uma gangue e comete uma série de crimes como estupro, violência, roubo, invasões. O grupo denominava-se “os droogs” e assim se tratavam entre si.
Freqüentavam um bar com ar futurista, onde os móveis eram em formato de pessoas despidas e bebia-se algo com aparência semelhante ao leite.
Uma série de crimes é cometida pela gangue sob a liderança e estímulo de Alex. Ao verem um mendigo bêbado nas ruas, a gangue o humilha e o espanca violentamente.
Em seguida, entram na casa de um escritor, e estupram a sua esposa fazendo-o assistir o ato, depois de tê-lo espancado e amarrado. O ato é cometido sob a trilha Singing in the rain, cantarolada por Alex sarcasticamente.

 

Alex passa por problemas em sua liderança, pois a gangue quer muda algumas regras e deseja ser tratada de outra forma, com mais respeito. Alex responde a essa reivindicação agredindo os seus companheiros de gangue.
Em busca de dinheiro, a gangue invade a casa de uma artista e Alex agride a mulher, matando-a. Ao tentar fugir, a gangue o surpreende com um golpe em sua cabeça, deixando-o cego temporariamente, o que o leva a ser capturado pela polícia.
Alex, que já era acompanhado por um inspetor que exercia a função de assistente social e seu disciplinador, recebe a visita deste na delegacia, quando este percebe e proclama que agora Alex é assassino, e portanto não tem mais como melhorar o seu comportamento. O jovem é condenado  a 14 anos de prisão.


Aos dois anos de pena, conforme narração do próprio Alex e seu comportamento, logo percebemos que ele em nada mudou, exceto pelo respeito ás autoridades na prisão, que lhe era obrigatório.
Cansado de ser prisioneiro, Alex solicita ao diretor da prisão que lhe permita
participar do tratamento experimental Ludovico, em troca de sua liberdade. Tratava-se de uma terapia do governo para reverter o comportamento criminoso no ser humano. O tratamento é iniciado e dura duas semanas até que Alex seja solto. As sessões contemplam a aversão. São exibidos filmes de violência explícita e Alex os assiste com os olhos abertos ininterruptamente, garantidos por presilhas que os prendem. É também aplicado uma droga no corpo de Alex.
Estas combinações o levam a ter enjôos e dores enquanto vê as cenas dos
filmes. O objetivo é a associação entre a violência e a dor física. Numa das sessões a trilha do filme exibido é de Ludwig Van Bethooven, músico que Alex aprecia, tornando o jovem avesso por acaso à Nona Sinfonia de Bethooven.

 
Alex está aparantemente recuperado ao final do tratamento, pois não consegue esboçar atos de violência ou estupro, já que a cada vez que tenta realizar ou reagir a um ato de violência, sente dores e náuseas fortes, tornando-se incapacitado de agir novamente desta maneira.


Ao sair da cadeia, rejeitado pelos pais, que muito sofreram com sua conduta, o destino o leva a reencontrar as suas vítimas. A primeira delas é o mendigo, que lhe pede dinheiro e reconhecendo-o, une-se aos demais idosos mendigos para espancá-lo. Em meio à confusão, dois policiais os interrompem. Alex estaria a salvo, porém os dois policiais são os seus amigos de gangue, que foram agredidos por ele.

 
Imediatamente os rapazes se vingam dele, usando também de violência. Espancado e fraco, Alex pede ajuda numa casa, sem notar que é a casa do escritor, outra vítima sua. A esposa deste havia morrido e ele estava numa cadeira de rodas. A vítima usou a Nona Sinfonia para fazer Alex sofrer, e este tentou suicídio, sem sucesso.
Após um longo período em coma, Alex acorda e é visitado pelo Ministro, que lhe oferece emprego em troca de silêncio e apoio ao partido, após tanta polêmica que cercara o caso e prejudicara sua gestão. Nesse momento, Alex recebe flores  ouve a Nona Sinfonia e sob essa trilha, declara-se ao telespectador estar “definitivamente curado”, vislumbrando, porém, uma cena de sexo o que mostra que o antigo Alex estava ali novamente.
O filme mostra a intervenção de instituições e personagens de ordem na vida de Alex através do inspetor, o padre na prisão, a própria polícia, o governo, os cientistas. O protagonista Alex, mau, sádico e performático nos leva a desejar uma correção moral e é disso que o filme trata. A correção, porém, é científica e põe em discussão a questão do livre arbítrio.
 

Percebe-se claramente o uso do Behaviorismo na técnica, através do comportamento condicionado, dos reforços, dos estímulos e respostas, associações e repetições. Seria, para o governo e para a ordem da sociedade, uma alternativa eficaz de manter a segurança, porém há muitas outras questões éticas e morais por trás dessa decisão. Percebe-se, apesar de a história se passar no futuro um governo rígido, autoritário, principalmente por autorizar uma experiência de caráter behaviorista. Trata-se também de uma delinqüência juvenil injustificada, onde não se vê sofrimento, depressão, desequilíbrio mental, nenhum mal exemplo dos pais ou dificuldades financeiras.
A história deseja dar ao espectador uma violência gratuita, um personagem
mau porque é simplesmente mau. Toda a atmosfera artística e libertina nos remete
ao sarcasmo de Alex, aos estupros, à imoralidade tornada imparcial e parte da vida dos cidadãos do futuro, um futuro imaginado em 1962 influenciado pela tendência do design e arquitetura da época, muito futurista e extravagante.
O filme mexe com muitos conceitos que temos, provoca sentimentos de satisfação na vingança, questões de livre arbítrio, direito, moral, ética, disciplina, revolta, liberdade e proporciona ricas reflexões e debates nos campos da Psicologia, Sociologia, Direito, Antropologia e Pedagogia, sendo referência para construção de aprendizado nessas disciplinas.
Cabe observar o final do filme, onde o Ministro comparece tratando Alex de maneira especial, oferecendo-lhe ajuda e comida na boca, em busca de omitir o escândalo, tentando reverter a opinião pública sobre a situação usando sua influência e a mídia. Ironicamente, é nesse mesmo momento que é revelado para o telespectador que Alex não está curado do seu comportamento violento, justamente na hora em que ele é reconhecido e apoiado ainda que falsamente e com interesses pelo Ministro, o que não se viu em nenhum momento pelos outros personagens que fizeram parte da vida de Alex.

LARANJA MECÂNICA. Direção de Stanley Kubrick. Inglaterra, 1971. (136 min): Son. Color. Legendado. Port..

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